quinta-feira, 30 de julho de 2009

Solstício d'Inverno

Junho. A brisa agradável, dá espaço aos míticos ventos de Éolo...
A madrugada estérim, sem estrelas, é o sinal inicial do solstício das trevas.
Não neva aonde eu estou..., mesmo assim sinto os flocos de gelo. São tão reais
Eles brincam ao sabor dos ventos, como os dançarinos de um tango portenho.
Esse não é um período como os outros..., é o tempo da solidão que aperta nossos corações
A época que nossos demônios internos, tornam-se mais fortes e viventes
Ando pela praia deserta. Mesmo com as luzes da calçada, a obscuridade me acompanha.
É estranho..., porque as cores somem? Ou sou só eu, que enxerga, tudo em branco, preto e cinza...?
Ou poucos casais que vejo, fazem-me sentir uma alegria mental..., ou seria espiritual?
Uma coisa é certa: no inverno, todas as suas tristezas e fantasmas, voltam para te assombrar.
As minhas cicatrizes, uma por uma... tornam-se pulsantes, como veias hemorrágicas
Tudo que você faz de mal, mesmo sem noção, volta com a fúria de uma ressaca interminável
Cada som que a ventania produz, queira ou não, enumera todos os seus pecados...
Inclusive aqueles, que você acha os mais perversos, e óbvio, você se destrói para esquecê-los.
Para nós, depressivos, decidimos andar na neblina, como uma punição auto-imposta
Digo isso, talvez por experiência de vida, pois fiz certos erros, aos olhos humanos tão ridículos...
Mas na nossa visão, crimes tão graves, quanto milhares de holocaustos simultâneos.
Motivos estes, que para simples mortais, seriam pretextos para pegarmos uma gripe ou uma pneumonia.
A chuva que afasta os friorentos, é a nossa amiga, confidente e quem cura as feridas dos aflitos.
Pensava que era o único depressivo ínsone, que tinha asas cinzas...
Mas nessa época, brotamos como pragas, desejando beber o vinho da nossa desgraça.
O dia vai amanhecendo tímido, cinzento e assim será, mais noventa vezes.
E a cada nova manhã, voltaremos para nossa casa, exaustos pela nossa 'purificação'
O coração estará mais e mais apertado, pelas lembranças de um passado imutável
E nos resta apenas, cantar a ode de inverno, todas as vezes que chorarmos. Sóbrios ou bebados

"Ó Clemente vento de Éolo...
Seque as lágrimas dos depressivos
Ajude-nos a sugar o frio d'inverno
Para pagarmos nossos pecados
Faça-nos ver as estrelas aonde elas estejam
Mesmo em nossas ilusões
E bebamos até o último gole
O vinho da nossa perdição. Assim seja"

E todos os dias pelos próximos três meses. Amén...!

Asteartea, 2006eko ekainaren 27a
Terça. 27 de junho de 2006.

E na playlist: Stereophonics - Mr. Writer

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